Teatro apresenta cotidiano do cortador de cana
Autoridades ligadas ao setor canavieiro, Juízes da Justiça do Trabalho e produtores de cana-de-açúcar, participaram, na manhã desta quinta-feira (27), no auditório da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), de um evento que mostrou a realidade do relacionamento entre unidade industrial e cortadores de cana na Paraíba. Na ocasião, o público assistiu a um espetáculo teatral já bastante conhecido dos trabalhadores canavieiros e de suas famílias, chamado “Orgulho de ser Cortador”, capitaneado pelo dirigente da Japungu, Dante Hugo Guimarães. O evento foi promovido pelo Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool e do Açúcar da Paraíba – Sindalcool com apoio da Asplan.
O evento foi aberto com a apresentação da Companhia Paraíba de Dramas e Comédias. Os atores mostraram a realidade dos cortadores de cana na usina Japungu de forma bem humorada. Na história, dois irmãos, Francisco e Pedrinho, serviram para demostrar como que a política de relacionamento das usinas com seus empregados mudou muito nos últimos anos. A narrativa apresentou Francisco como esforçado e trabalhador. Já Pedrinho, consumido pelo álcool e pela falta de incentivo, nunca tinha conseguido passar muito tempo em um emprego até que foi admitido na usina. Com a política de tratamento e o programa de melhoria do salário que envolve metas para incrementar remuneração, o cortador se tornou um trabalhador comprometido e esforçado, conseguindo vencer o vício do álcool e se tornar um exemplo para sua família.
Após a apresentação, o dirigente da Japungu, Dante Hugo, falou sobre a iniciativa. “Acredito que só a educação modifica o homem. Assim, todos os anos promovemos esse teatro durante a integração de nossos cortadores de cana, início da safra. Eles vêm acompanhados de suas famílias e assistem à apresentação de um tema”, comentou Dante, frisando que a cada ano escolhemos uma tema diferente a ser tratado. “O resultado tem sido positivo, tanto que nossa frequência lá é de 96%. Isso é muito bom. Além disso, também quase não temos reclamações trabalhistas”, acrescentou Dante, lembrando que o teatro é feito desde 2003 como forma de mostrar a política de incentivo da Japungu.
O presidente da Asplan, Murilo Paraíso, elogiou a ação e lembrou que o setor passa por uma grande crise. “Essa é a primeira vez que vejo esse teatro. Nunca tinha visto, mas já sabia da repercussão dele junto aos funcionários da Japungu. Ele é muito bonito. Fico satisfeito em poder conhecer esse trabalho”, comentou Murilo. Ele aproveitou a oportunidade para falar também do preço da cana, que não tem alcançado um valor que deveria, sendo vendida ao preço de R$ 63,00 enquanto que era para ser por volta dos R$ 94,00. “Várias unidades estão fechando pelo país justamente porque não existe uma política regulamentadora da atividade produtora de cana. Espero que o governo federal tome logo uma atitude para que ações como essas da Japungu não deixem de existir”, frisou.
Já o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do estado da Paraíba (Fetag), Liberalino Lucena, destacou que essa é uma ação que pouco se vê pelo país. “O que vemos na prática em todo o país é o trabalhador sendo tratado como uma coisa. Esse teatro mostra como o trabalhador vem sendo tratado nas empresas da Paraíba. Estamos avançando”, disse.
Em seguida, o Juiz do Trabalho, o Dr. José Arthur, discorreu sobre a realidade dos acidentes de trabalho, principalmente na construção civil, no país. Segundo um levantamento feito pelo grupo de trabalho GETRIN13, à medida que os números de postos de trabalho formais crescem, o numero de acidentes de trabalho praticamente não se alteram. “Em 2000 eram 26.228.629 postos de trabalho formais e 3.094 acidentes. Em 2012 eram 47.458.712 postos enquanto que os acidentes foram 2.731. Na Paraíba temos uma média de pouco mais de 4 mil acidentes e 15 mortes por ano”, mostrou o Juiz, mostrando que o grupo de trabalho está trabalhando para dialogar com as entidades ligadas ao trabalhador e reduzir esses números junto a elas. “Somos parceiros do Sindalcool”, comentou.
Crise do setor
Com a conclusão da apresentação sobre acidentes no trabalho, o secretário adjunto da Secretaria de Agricultura do estado da Paraíba, Rômulo Montenegro, comentou sobre a atual crise pela qual passa o setor e destacou que o Governo Federal precisa pensar em uma política de incentivo para a produção e comercialização do etanol. “A Paraíba tem esse setor como o mais importante do segmento primário, tanto no aspecto tributário como no atendimento a todas as exigências trabalhistas, muito mais que qualquer outro setor”, afirmou.
Ele cobrou uma providência do Governo Federal a respeito da crise. “O setor clama por uma ação. O país lutou para criar a Petrobras e agora não consegue aprovar uma politica pública de regulamentação para o etanol, um combustível limpo e ecologicamente sustentável”, frisou o secretário, alegando que o motivo da crise está na falta de politicas públicas.
Ao final, Edmundo Barbosa, presidente executivo do Sindalcool, trouxe dados do setor. Ele se acostou à cobrança de Rômulo e comentou que nos últimos quatro anos, 70 usinas fecharam as portas no país e 210 mil pessoas ficaram desempregadas por isso.
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