Trabalho pode reacender os debates sobre mudanças no preço pago pela tonelada da matéria-prima aos fornecedores. Hoje, o preço da cana leva em conta apenas o ATR
O bagaço de cana-de-açúcar agora está caracterizado cientificamente. O estudo interlaboratorial realizado pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e o National Renewable Energy Laboratory (NREL), em parceria com sete instituições brasileiras, irá beneficiar as pesquisas na área da biomassa produzida em grande quantidade no Brasil por usinas instaladas no território nacional e também pode reacender o debate sobre o cálculo no preço da cana fornecida às indústrias.
O presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), Murilo Paraíso, lembra que o estudo sobre a caracterização científica do bagaço da cana também trará ganhos para os produtores de cana-de-açúcar brasileiros. “Atualmente, a remuneração do fornecedor de cana baseia-se, exclusivamente, na ATR, não levando em consideração outros componentes da matéria-prima, a exemplo do bagaço e da palha da cana, de forma que a partir desse estudo teremos mais subsídios para voltar a debater a inclusão desse valor na remuneração da matéria-prima e aumentar o preço pago pela tonelada da cana fornecida às indústrias”, destaca Murilo.
Publicado no Journal of AOAC International ele é a primeira publicação que apresenta uma comparação entre métodos de caracterização química desta biomassa.O artigo, intitulado “Evaluation of Brazilian Sugarcane Bagasse Characterization: An Inter-laboratory Comparison Study” apresenta os resultados da composição do bagaço da cana, obtidos por oito laboratórios utilizando técnicas semelhantes com pequenas alterações nos métodos analíticos, com o objetivo de determinar as variações esperadas nesta análise. Com a publicação do trabalho, a próxima etapa é o estabelecimento da padronização em norma ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Para a pesquisadora do CTBE e uma das autoras do artigo, Maria Teresa Borges Pimenta Barbosa, o resultado do trabalho beneficiará muitas instituições nacionais e internacionais que estão trabalhando com o bagaço da cana-de-açúcar. Na sua opinião, para a comunidade científica é muito importante ter uma base concreta de consulta das metodologias para a caracterização do bagaço de cana, uma vez que a literatura especializada reporta normas específicas para a caracterização de outras biomassas que, quando utilizadas para a caracterização do bagaço de cana, acarretam em erros experimentais que dificultam a comparação dos resultados.
A produção de energia por meio do bagaço de cana tem se mostrado eficaz e uma grande fonte de alternativa energética. Prova disso é que diversas usinas de cana-de-açúcar no país já dispõe de sistema de co-geração de energia elétrica, através da queima do bagaço da cana, muitas das quais já estão com disponibilidade de comercialização de energia. Segundo especialistas, o Brasil tem potencial para instalar 2.500 MW a mais de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar. Esse valor representa, por exemplo, cerca de 20% da capacidade de produção da hidrelétrica de Itaipu, a maior do País. “Atualmente, o bagaço e a palha da cana já são considerados importantes componentes da matriz energética do Brasil, mas, infelizmente, ainda não entram na composição do valor da matéria-prima e isso precisa mudar”, afirma Murilo.