Ministra da Agricultura defende descontos para produtores na conta de energia elétrica e diz que é preciso que o governo tenha uma política de fomento à irrigação

Ministra da Agricultura defende descontos para produtores na conta de energia elétrica e diz que é preciso que o governo tenha uma política de fomento à irrigação

Durante sua visita à Paraíba, na tarde do último sábado (16), a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, defendeu que o Congresso Nacional discuta o decreto assinado pelo ex-presidente Michel Temer, em 28 de dezembro do ano passado, que vai acabar com os descontos para produtores rurais no pagamento das contas de energia elétrica e admitiu que o governo precisa ter uma política pública de fomento à irrigação. Essas e outras questões foram abordadas pela ministra, durante reunião com o setor produtivo e sucroenergético da Paraíba, ocorrido durante visita a Usina Japungu, em Santa Rita.

“Eu não conhecia a agricultura do Nordeste e para mim está sendo uma surpresa a cada dia que a gente vai andando e vendo projetos exitosos e constatando que a gente pode melhorar ainda mais tudo isso com políticas públicas sérias e transparentes, em que os recursos cheguem até a ponta, para mudar a realidade do Nordeste brasileiro”, disse a ministra logo no início de sua fala.

“Se a gente sentar, somar esforços, deixar a vaidade de lado e trabalhar em parceria as coisas evoluem e dão certo. O Ministério da Agricultura precisa ter uma política pública de fomento para irrigação e nós ainda não temos. Formular essa política de irrigação é uma obrigação do Ministério. Se ela ficar mais ou menos, a gente aperfeiçoa depois. O importante é começar e começar juntos, somando esforços, talentos e competências, governo, setor produtivo, universidades, técnicos, etc”, reiterou a ministra. Ela admitiu que o Estado brasileiro precisa vir mais ao Nordeste. “Há muita demanda nesta região, mas eu prometo a vocês que virei outras vezes”, disse ela.

Sobre a reivindicação do setor de manter a redução na tarifa da energia elétrica ao produtor, a ministra disse ser favorável à manutenção dos descontos. “Esse decreto vai contra tudo o que estamos discutindo com o setor produtivo”, disse a ministra aos produtores da Paraíba. Ela explicou, no entanto, que embora favorável a essa manutenção dos descontos, essa não é uma prerrogativa de sua Pasta, mas do ministro da Economia, Paulo Guedes. De qualquer forma, ela disse que participará essa semana de uma reunião que debaterá essa questão e adiantou que é favorável à manutenção dos descontos. O decreto de Michel Temer determinou a redução dos descontos para produtores rurais em 20% ao ano, até chegar a zero daqui a cinco anos. Atualmente o setor produtivo tem uma redução nas tarifas que varia de 10% a 30%.

O presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan) e da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida), José Inácio de Morais, participou do encontro com a ministra e gostou do que ouviu. “Ela conhece a realidade do campo, fala com propriedade e me pareceu muito segura e coerente quando admitiu que o governo precisa ter um olhar mais voltado para o Nordeste e implementar políticas públicas que fortaleçam a produção n região, a exemplo desta política de fomento à irrigação e da manutenção da redução da tarifa da conta de energia elétrica”, afirmou José Inácio, que       elogiou a disposição da ministra que ficou até por volta das 20h na propriedade debatendo os assuntos de interesse do setor produtivo.

Na ocasião, um dos diretores da Usina Japungu fez uma explanação sobre o projeto de irrigação por gotejamento subterrâneo no cultivo da cana-de-açúcar implantado na usina, demonstrando através de dados projetados num telão, um comparativo da produtividade antes e depois da irrigação. “Com o uso desse sistema, a usina passou a ter produtividade média de 112 toneladas de cana por hectare, nos 3.550 hectares onde funcionam as canalizações de água. No restante da fazenda, onde não há irrigação, o rendimento médio é de 45 toneladas por hectare”, disse José Bolivar Melo.

 O método utilizado na Japungu consiste em uma rede de mangueiras enterrada no solo. A cada 50 centímetros, gotejadores liberam a água já com doses de adubo. “Esse projeto é caríssimo e se o governo tivesse uma linha de fomento à irrigação, com certeza ele se expanderia para outras empresas e propriedades e a produtividade dos canaviais seria ampliada consideravelmente no Nordeste, onde a escassez hídrica é uma realidade cruel!”, afirma José Inácio, que junto com diretores da Asplan que acompanharam a visita da ministra, vibrou com as colocações de Tereza Cristina.

Ainda segundo a ministra, ela voltará ao Nordeste em março para visitar outros estados que não foram contemplados nesta visita e, a partir daí, elaborará uma política pública voltada ao semiárido e para toda a região, que será lançada até junho. “Conhecia o Nordeste como turista. Agora estou viajando a trabalho e me encantando com tantas experiências exitosas que só precisam de um apoio para ter ainda mais sucesso”, disse ela que também foi questionada sobre a concorrência do etanol de milho dos EUA, que se constitui numa concorrência desleal do produto americano que tem subsídios para ser produzido com a produção brasileira. O presidente da Feplana, Alexandre Lima, foi um dos que abordaram o tema, cobrando da ministra um posicionamento em defesa da produção nacional.