Preços defasados, seca no período agrícola e chuva na época do processamento marcaram a safra, que começou e terminou com atrasos
A produção de cana-de-açúcar referente à safra 2013/2014, dos cerca de 1.800 fornecedores ligados à Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan) contabilizou um resultado final de 2.088.997,30 toneladas. No balanço geral, quando se contabiliza a produção total, ou seja, cana de fornecedores e de indústria, a safra paraibana fechou em 5.165.242 toneladas. O processo de moagem no estado foi iniciado em setembro do ano passado e terminou no começo de maio deste ano. A quantidade moída pelos fornecedores ligados à Asplan foi inferior ao total contabilizado na safra 2012/2013, assim como a moagem da cana própria de usinas e de seus respectivos acionistas.
“Essa foi uma das piores safras que acompanhei nos últimos anos”, desabafa o consultor e pesquisador da Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE), Francisco Dutra Melo, que também é o químico responsável pelo trabalho desenvolvido durante a safra junto à Asplan. O especialista explica que além do preço da matéria-prima ter ficado defasado em relação aos custos de produção, a questão climática influenciou muito no comprometimento da produção local. “Tivemos seca no período agrícola e níveis de precipitação elevados durante a época do processamento industrial”, destaca Dutra.
Para Dutra, o preço ruim e o efeito climático fizeram estragos na produção. “Contabilizamos uma perda de cerca de 10 kg de açúcar por tonelada de cana fornecida e isso é muita coisa no computo geral da safra”, destaca Dutra. Recentemente, representantes do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (PECEGE) estiveram na Asplan para colher dados e informações sobre custos de produção da cana-de-açúcar no estado e constataram que a diferença do custo de produção da tonelada de cana frente ao que se recebeu pela matéria-prima, entre 2012 e 2014, atingiu a marca de R$ 30,00 de defasagem.
Segundo o coordenador do Departamento Técnico da Asplan (Detec), Vamberto Rocha, o custo para se produzir uma tonelada de cana-de-açúcar na Paraíba, atualmente, é de R$ 93,00, enquanto que a média recebida pelo fornecimento da mesma quantidade da matéria-prima ,pelo sistema Consecana, correspondente ao período de agosto 2013 a março de 2014, foi de apenas R$ 63,00. “Trabalhamos com uma diferença negativa de cerca de R$ 30,00”, lamenta Vamberto. Ele explica que para tentar equilibrar receita e despesa, o produtor canavieiro, nos últimos anos, tem diversificado a cultura, está cada vez mais endividado, diminuindo o uso de tecnologias e se valendo do adiantamento das indústrias e do pagamento da subvenção para sobreviver. O custo de produção engloba o valor da mão de obra, dos insumos utilizados e os custos com a colheita da cultura.
As perdas, segundo o presidente da Asplan, Murilo Paraíso, estão diretamente relacionadas às questões climáticas e ao preço defasado da matéria-prima. “Desde 2012 que convivemos com a seca e isso tem provocado um desarranjo na nossa produção que sofre com a falta de brotação e a morte de diversas soqueiras, um quadro que vem se repetindo com mais ênfase nas duas últimas safras”, destaca Murilo Paraíso, lembrando que a situação é crítica.
Segundo o Detec, 97,80% dos fornecedores ligados à associação é formado por micro, pequenos e médios produtores. Juntos eles respondem por 63,14% da produção contabilizada pela Asplan. Os grandes representam apenas 2,21% do universo de fornecedores ligados à Associação e juntos respondem por 36,86% da produção canavieira. Classifica-se como micro produtores os que produzem até 1.000 toneladas/safra. Entre 1000 e 5 mil toneladas é considerado pequeno produtor. Entre 5 e 10 mil toneladas situa-se os médios produtores e acima de 10 mil toneladas grandes produtores.
O presidente da Asplan lembra ainda que mesmo com todas as dificuldades, o estado paraibano detém a terceira maior produção de cana-de-açúcar do Nordeste, atrás apenas de Alagoas e Pernambuco. Ele destaca a importância dos incentivos federais para que os pequenos e médios produtores consigam seguir em frente. “Os nossos pequenos e médios produtores de cana precisam de apoio porque são eles os que mais necessitam de ajuda para retomar a produção”, frisa o dirigente, lembrando que dentro destas perspectiva de ajuda, o destaque fica com o pagamento da subvenção federal, no valor de R$ 12,00 por tonelada de cana fornecida, até o limite de 10 mil toneladas por produtor. “Essa ajuda é imprescindível diante da atual situação e estamos na expectativa de que o Governo Federal, através da votação da MP 635, que tramita no Congresso, possa aprová-la até o final deste mês”, lembra o dirigente. A Paraíba possui um total de oito unidades industriais sucroenergéticas, que produzem açúcar e álcool.