Estudo mostra que, além da queda do ATR, os produtores de cana também enfrentarão alta nos custos de produção
Os efeitos do clima como sempre, têm preocupado os produtores de cana nordestinos. Ao contrário do que os produtores do Centro-Sul do país estão enfrentando com a estiagem prolongada, o produtor nordestino agora espera que a chuva cesse um pouco para que o valor dos Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) suba e a produtividade volte a lhe render, pelo menos um valor próximo de seus custos. Mas, ao que tudo indica, o setor sucroenergético, nesta safra 2014/15, será marcado pela queda nos índices de produtividade, embora o Nordeste tenha o que comemorar no que diz respeito ao desenvolvimento da produção depois de uma longa seca.
É o que mostra o boletim “Ativos da Cana-de-Açúcar”, elaborado pelo Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresa (Pecege), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Falta de chuvas no início do ano prejudicou a produção na região do Centro-Sul, fazendo com que as lavouras se desenvolvessem menos, o que trouxe queda de produtividade na região. No entanto, a situação contribuiu para a recuperação dos preços praticados no mercado para o açúcar e o etanol, visto que o valor do ATR elevou-se com a escassez de chuva.
No Nordeste, porém, o quadro é o oposto. A quantidade de chuvas é o que está fazendo com que a remuneração do produtor caia em função da queda da concentração do açúcar – ATR. “As chuvas estão fazendo nosso ATR baixar. Tem produtor comercializando sua cana a R$ 50,00 e R$ 52,00”, disse o presidente da União Nordestina de Produtores de Cana – Unida, Alexandre Lima, lembrando que o produtor é remunerado pela qualidade da matéria-prima expressa em quilo de ATR por tonelada de cana. Conforme explicou Alexandre, essa variação de preço não suporta o custo de produção que está em torno de R$ 87,00 na região nordestina.
Ainda de acordo com o estudo da CNA em parceria com o Pecege, da Esalq/USP, além da queda da produtividade, o produtor também terá que enfrentar uma elevação dos custos de produção. Segundo a pesquisa, os principais itens que irão influenciar esse aumento são: a queda da produtividade por hectare; elevação de pelo menos 8% nos salários dos trabalhadores do setor; e 8,5% de aumento no preço do corte, carregamento e transporte da cana (CCT).
“A tonelada de cana no Nordeste é comercializada a R$ 73,00 enquanto que o custo está em R$ 87,00. Já temos essa defasagem que até agora não conseguimos resolver. E agora temos essa expectativa de queda também do ATR”, comentou Alexandre Lima, frisando que a produção ainda não foi recuperada depois da última seca. “Esperamos que a chuva diminua um pouco para nos render um bom ATR, mas não podemos pedir muito porque acabamos de sair de uma seca”, brincou o dirigente, destacando que a chuva, pelo menos, fez com que a cana voltasse a se desenvolver.
A situação foi classificada como séria pelo presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), Murilo Paraíso. Para ele, as expectativas só demonstram a necessidade de serem adotadas medidas capazes de tornar a atividade economicamente mais viável. “Grande parte desse problema da remuneração do produtor vem da falta de uma regulamentação para o setor e das medidas políticas do governo que opta pela compra do petróleo no mercado internacional ao invés de valorizar a produção do etanol internamente. Se a produção do etanol fosse importante para o governo, o pagamento de nossa cana também seria melhor”, conclui Murilo.