Sempre que o mercado lança uma nova variedade de cana, como agora, com a RB 1443, que chega prometendo uma maior produtividade, reacende a esperança do produtor canavieiro de ter acesso a uma matéria-prima mais resistente às pragas e mais tolerante a escassez hídrica. Mas, estudos e pesquisas realizadas pela Ridesa/UFRPE, que foram apresentados nesta quinta-feira (06), durante o 3º Encontro sobre Variedades de Cana para a Paraíba, atestam que as novidades nem sempre são o que se apresentam e que as variedades mais promissoras para a região Nordeste e, especialmente, para a Paraíba continuam sendo a RB 92579 e RB 865715. O Encontro aconteceu no auditório da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan).
O evento foi aberto pelo presidente da Asplan, Murilo Paraíso que deu as boas-vindas aos especialistas da Ridesa/UFRPE, Leonam José, Paulo Rocha e Amaro Epifânio que conduziram as palestras técnicas. Em seguida, o vice-presidente da Asplan, Raimundo Nonato, enalteceu o trabalho da Ridesa e discorreu sobre o atual momento do setor produtivo canavieiro. “As pesquisas e experimentos da Ridesa/UFRPE têm ajudado muito o produtor de cana do Nordeste, que passa por um momento delicado, com uma estimativa de redução de receita que beira os R$ 20,00 por tonelada de cana em relação à safra passada”, disse Nonato.
O especialista Djalma Euzébio, da UFRPE, fez uma retrospectiva sobre a seleção e experimentos da instituição que há 27 anos estuda variedades de cana-de-açúcar, enaltecendo a importância das pesquisas na região. “A cana que se desenvolve melhor nos tabuleiros e solos arenosos do Nordeste são as variedades desenvolvidas pelas universidades de Alagoas e Pernambuco, em função das condições ambientais mais específicas”, disse ele, destacando a RB 867515 como exceção, já que é uma variedade que se adapta em diferentes regiões.
A palestra de Leonam José, da RIDESA/UFRPE, “Censo Varietal e indicadores de safra”, enalteceu a supremacia das variedades RB que são utilizadas, atualmente, em 65% dos canaviais do Brasil, que totalizam nove milhões de hectares de cana. Na Paraíba e Rio Grande do Norte, segundo apresentação do especialista, 90% da colheita na safra 2016/2017, foram de variedades RB e, ainda frisou que a variedade SP 813250 apresenta frequentemente problemas de ferrugem na planta.
Leoman também apresentou um gráfico com histórico das 11 últimas safras que registraram redução significativa no percentual de renovação. “Isso é ruim para a produtividade, uma vez que deixa o canavial mais velho”, disse ele.
Em seguida, Paulo Rocha e Amaro Epifânio abordaram o tema “Resultados Experimentais e Variedades em Destaque”. Paulo apresentou avaliações de diversas unidades industriais, com dados de TCH, TPH, PC, ATR, TATR.ha, de clones variados, em situações de cortes diferentes enaltecendo a importância do trabalho de pesquisa e experimento que requer tempo, observação regular, medições técnicas e avaliações permanentes. Epifânio se ateve na questão da seleção e plantio de variedades, apresentando resultados do programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar. Segundo ele, as variedades RB 101130 e RB 081510 serão as próximas variedades a serem avaliadas, enquanto a RB 021754 e RB 041443 já começam a apresentar bons resultados.
Na parte dos debates, o consultor, Benon Barreto, Djalma Euzébio Neto, da UFRPE, o produtor Neto Siqueira e Hugo Rodrigues, da usina Monte Alegre S/A abordaram assuntos diversos sobre variedades e seus resultados. A rápida liberação comercial da cana transgênica no Brasil foi um dos assuntos abordados. Na opinião de Djalma Euzébio, o melhoramento clássico das variedades ainda é o melhor caminho, inclusive, sob o ponto de vista de investimentos. “Nossos experimentos custam R$ 5,00 por hectare/ano. No CTC esse valor é estimado em R$ 155,00 e há uma estimativa no mercado de que o valor para a cana transgênica seja algo em torno de R$ 350,00”, afirmou ele.
No final do encontro, o vice-presidente da Asplan, agradeceu as informações repassadas pelos técnicos da Ridesa/UFRPE e reiterou sua preocupação com a redução da safra na Paraíba que sofreu uma redução de 40%, nos últimos 30 anos. “Isso nos preocupa, pois se não tomarmos uma providência onde vamos chegar e olha que estamos falando de uma atividade muito importante. É preciso que o governo atente para isso para que não ocorra na Paraíba o que houve com a cultura do Sisal e do Algodão. Hoje, só a cana sobrevive, mas é preciso criar políticas de incentivo ao setor”, finalizou Nonato.
O 3° Encontro sobre variedades de cana é uma ação do Departamento Técnico da Asplan (DETEC) que promove eventos técnicos periódicos que abordam assuntos de interesse dos produtores canavieiros paraibanos. “As informações apresentadas e debatidas neste encontro ampliaram os nossos conhecimentos e nos darão subsídios importantes para melhorarmos nossa atuação enquanto produtores”, destaca o coordenador do DETEC, Vamberto Rocha.