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É preciso que os governos olhem para o setor canavieiro e privilegiem a produção de combustíveis renováveis

MuriloParaiso okPresidente da Asplan-PB avalia a situação dos trabalhadores e da produção canavieira do Estado

Mesmo sendo uma das principais bases da economia e da geração de emprego do país, a cada dia que passa, o setor produtivo, independente de qual seja a cultura praticada, tem enfrentado inúmeras dificuldades para se manter atuante. Clima, mão-de-obra qualificada, alto custo de produção ou mesmo por falta de incentivos por parte dos governantes são alguns gargalos comuns no meio rural.  Essa realidade também faz parte do dia-a-dia do setor sucroalcooleiro no Nordeste e também da Paraíba, responsável pelo cultivo da cana-de-açúcar no Estado, que é a principal matéria-prima para produção do açúcar, do álcool e demais derivados.

“A elevação do preço dos fertilizantes nos últimos anos foi de cinco vezes muito acima do crescimento do valor da cana e esse talvez seja o nosso maior desafio na atualidade. Os insumos, inclusive, representam 61% dos custos de um ciclo médio total de cana-de-açúcar que é de cinco anos para um hectare”, avaliou presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan-PB), o engenheiro civil e produtor rural, Murilo Correia Paraíso.

Fundada em 1957, a Asplan é uma entidade de direito privado que congrega, atualmente, cerca de 1.800 pequenos, médios e grandes produtores de cana-de-açúcar, sendo a maior parte deles pequenos e médios.

Durante entrevista ao Paraíba Total, dirigente apontou as maiores dificuldades vivenciadas pelos associados, da zona litorânea e do Brejo paraibano, no cultivo da cana-de-açúcar e como a entidade tem se empenhado para tentar amenizá-las. Na oportunidade, ele ainda adiantou o balanço atual da safra 2013/2014 processada nas usinas, apesar de todo o alto custo de produção. “Já atingimos 85%, o equivalente a 1.406.551,442 toneladas. Toda essa matéria-prima produzida pelos 1.800 fornecedores/associados já foram processadas nas oito usinas sucroalcooleiras do estado. Dificilmente será atingida a mesma moagem de 2011/2012, já teve uma redução de 25%, repercutindo de uma forma bastante negativa na atividade dos produtores de cana-de-açúcar”, acrescentou ele.

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Como está a atual situação dos produtores canavieiros do Estado?

O setor, infelizmente, carece de políticas públicas que o fortaleça. A Asplan, junto com as entidades representativas da categoria, tem cobrado dos governos estadual e federal, ações que fortaleçam o segmento que é um dos mais importantes da economia, que emprega mão de obra no campo, que gera divisas. A doação de cana-semente, em nível local, e a perpetuação do pagamento da subvenção, em nível federal, são algumas das principais bandeiras de luta defendidas pela entidade em prol do surgimento da atividade e na defesa de quem vive de plantar e colher cana-de-açúcar. É preciso que os governos olhem mais atentamente para o segmento canavieiro devido a sua importância econômica e social e, especialmente, invistam, cada vez mais, em políticas que privilegiem a produção de um combustível limpo e renovável, o álcool, em detrimento de combustíveis fósseis que poluem e tem suas reservas limitadas. O Brasil tem terra boa, fértil e em grande quantidade, matéria-prima de boa qualidade, indústrias e produtores que vivem da terra, plantam e colhem com amor. Falta ainda direcionamento e visão para todo esse potencial.

Como estão os números do setor, em relação à tonelada de cana, salários dos trabalhadores e produto final da produção?

A tonelada de cana vem variando uma média de 6,6% sempre para baixo desde 2011 (valores: R$ 73,44 em 2011; R$ 67,31 em 2012 e R$ 64,58 em 2013) e os salários médios dos trabalhadores crescendo em média 10% no período que compreende os anos de 2000 a 2014. Em 2007, por exemplo, o setor pagava R$ 387,00 de salários aos trabalhadores rurais. Hoje o mesmo trabalhador recebe R$ 734,00. Isso significa uma elevação de quase 100% no pagamento das folhas em sete anos, enquanto o valor pago pela cana de 2007 para cá variou negativamente. E os custos não param por aí. Nos últimos 14 anos, os salários subiram, chegando a quase sete vezes mais, visto que lá pelo ano 2000 a remuneração do cortador de cana era de pouco mais de R$ 100. Também tivemos a elevação do diesel e dos adubos. Imagine que em 1994, na virada do Real, pagávamos R$ 0,38 pelo litro do diesel e a cana estava a R$ 21. Agora, o litro do diesel está sempre acima de R$ 2,30 e a cana está sendo comercializada a R$ 61, ou seja, enquanto o diesel subiu seis vezes, a cana subiu três. O adubo também teve elevação nesses anos. Se antes o produtor comprava insumos a R$ 200 hoje paga R$ 1.000. Enfim, a elevação nos insumos foi de cinco vezes, também acima do crescimento do valor da cana e esse talvez seja o nosso maior desafio na atualidade. Os insumos, inclusive, representam 61% dos custos de um ciclo médio total de cana-de-açúcar que é de cinco anos para um hectare.

Qual o balanço atual da safra 2013/2014? Qual previsão de conclusão da moagem nas usinas? E qual a expectativa de produção em álcool e açúcar?

O processo de moagem da cana-de-açúcar referente à safra 2013/2014 dos fornecedores ligados à Asplan já atingiu 85%, o equivalente a 1.406.551,442 toneladas. Toda essa matéria-prima produzida pelos 1.800 fornecedores/associados já foram processadas nas oito usinas sucroalcooleiras do estado. O trabalho teve início em agosto em algumas unidades e noutras em setembro. A expectativa é que a safra termine nos próximos dias. É importante salientar que o atraso do inicio desta safra em relação a anterior ocorreu por conta do péssimo desempenho do inverno de 2012 e o inverno de 2013 ter começado a se consolidar só a partir de maio retardando, portanto, a época ideal de corte da cana para moagem. Dificilmente será atingida a mesma moagem da safra 12/13 que, comparando com a 2011/12, já teve uma redução de 25%, repercutindo de uma forma bastante negativa na atividade dos produtores de cana-de-açúcar. Nós não respondemos pela produção de álcool e açúcar. Essa é uma prerrogativa exclusiva do setor industrial. Os associados da Asplan são fornecedores da matéria-prima às indústrias.

E para a próxima safra, como estão os preparativos e qual a nova estimativa da entidade no que diz respeito a rendimentos?

As perspectivas de safra, geralmente são regidas por dois parâmetros principais: clima e preços. As previsões climáticas para o ano de 2014 são animadoras, com previsão de inverno dentro da média acima da média histórica. As chuvas que vêm caindo na região canavieira desde o início do ano só vêm a corroborar com estas previsões. O segundo fator, o preço, está atrelado à produção nacional de uma forma geral e internacional. É sabido que o Centro-Sul do Brasil passa por problemas causados pela estiagem, o que já comprometeu parte da sua produção. Como o Centro-Sul responde pela maior parte da produção brasileira, suas quedas de safra, bem como suas supersafras, atingem positiva ou negativamente os preços praticados pelo açúcar e etanol. Já é sabido que quando tais quedas de safra ocorrem, principalmente, no Estado de São Paulo, os preços destes produtos tendem a subir no Nordeste. O mesmo ocorre quando países como Índia e Austrália enfrentam problemas com as monções e as secas. Em suma, as previsões para a próxima safra são boas, tanto no clima quanto nos preços.

Quais os principais resultados obtidos pela entidade nos últimos tempos?

O principal resultado obtido no ano de 2013, que foi um ano muito difícil para o setor, foi a liberação da subvenção da cana-de-açúcar, no valor de R$ 12,00 por tonelada para o produtor. Para 2014, um dos principais pleitos é o controle do preço, uma vez que o etanol está atrelado diretamente à gasolina. Temos também, a situação do endividamento rural que mesmo com a existência de vários Projetos de Lei, até o momento, nenhum deles solucionou o problema dos produtores que estão endividados e sem perspectivas de renovação de crédito. Estamos também no aguardo da conclusão do projeto de irrigação para resolvermos a situação crítica causada pela seca, o qual depende da transposição do Rio São Francisco.

A geração de emprego e renda em todo setor produtivo favorece e muito para o desenvolvimento de um estado, de uma região? A Asplan-PB tem acompanhado  de forma positiva estes números no segmento sucroalcooleiro da Paraíba?

Sim. O segmento como um todo emprega, em média, cerca de 40 mil trabalhadores em períodos de safra na Paraíba e isso é um volume significativo de trabalhadores e geração de emprego no campo, onde a maior parte da mão de obra absorvida não é qualificada.

Como se dá a interface entre a Asplan-PB e a Federação dos Plantadores de Cana (Feplana)?

Através da Lei 4870/65, a Feplana é parceira em todos os sentidos e o trabalho é voltado para todo o setor canavieiro, onde juntamente com a Unida- União Nordestina dos Produtores de Cana-de-açúcar, lutam por todas as causas do segmento canavieiro e são responsáveis pelas grandes conquistas, a exemplo da subvenção.

Como a Asplan-PB tem administrado a crise e orientado seus associados nos períodos de estiagem decorrentes nos últimos anos?

Cobrando das autoridades políticas públicas efetivas que não apenas resolvam pontualmente o problema, mas que dê soluções definitivas. A continuidade e conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco está inserida neste contexto de buscar soluções duradouras para a problemática da seca.

Que outros tipos de auxílios a Asplan-PB têm oferecido aos seus associados? 

O trabalho de assistência prestado pela entidade aos seus associados é realizado tanto na sede da entidade, em João Pessoa, quando na propriedade deles, in loco. Há também o assessoramento em questões ambientais e trabalhistas e de Segurança no Trabalho, tais como, cumprimento de Normas Reguladoras, em questões jurídicas nas áreas Civil, Criminal, Agrária e Trabalhista, na área de saúde, com atendimento médio e odontológico gratuitos, além de exames laboratoriais, na questão social, com as ações pontuais de realização de eventos, palestras e comemorações. Asplan mantém ainda à disposição dos associados uma Estação Experimental, em Camaratuba, Município de Mataraca-PB, onde se produz insumos biológicos (vespas e fungos) para o combate natural de pragas dos canaviais, além de um laboratório de análise da cana, para auxiliar os produtores a identificar o valor do ATR de sua matéria-prima.

Do seu ponto de vista, quais são as perspectivas para o crescimento e desenvolvimentos do setor canavieiro da Paraíba nos próximos anos e como a Asplan-PB se projeta nesse contexto?

A única área de possível expansão seria onde está ocorrendo a interligação das bacias, Acauã e Araçagi, onde está sendo disponibilizado 16.000 ha.. A Asplan está em constante busca de resultados através de inúmeras reuniões com o Governador do Estado e as Classes representativas, como também, a disponibilidade de áreas através de alguns associados que inclusive, alguns deles já plantam através de sistemas rotativos.

 

Redação Paraíba Total
Adaucélia Palitot

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Lavoura de cana paraibana já segue a tendência brasileira de redução de custos com defensivos agrícolas

lavoura cana

Um estudo inédito da consultoria Kleffmann Group mostrou que o Brasil é o país que proporcionalmente, menos utiliza defensivos agrícolas entre os grandes exportadores de alimentos. Segundo a pesquisa, o país conseguiu reduzir em 3% o gasto com defensivos entre 2004 e 2011. No mesmo período, outros exportadores gastaram mais com defensivos: a Argentina passou a gastar 47% mais e os Estados Unidos elevaram os custos com defensivos em 6%. O levantamento abrange todos os produtos agrícolas, inclusive a cana-de-açúcar que, na Paraíba, já vem sendo cultivada com a ajuda de controladores biológicos a algum tempo.

Na Paraíba, por exemplo, os canavieiros contam com um laboratório que é referência no Nordeste na produção de Cotesia Flavipes (Vespas) e Metarhizium Anisopliae (fungos) para o controle biológico de duas grandes pragas que atacam os canaviais paraibanos: a broca-comum (Diatraea spp) e a cigarrinha da Folha (Mahanarva posticata). O laboratório fica na Estação Experimental de Camaratuba, no município de Mataraca, e está sob a responsabilidade da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan). Segundo o presidente da Asplan, Murilo Paraíso, é lá que os produtores de cana e associados encontram a solução para os diversos problemas que enfrentam com custos menores que os empregados no mercado de defensivos químicos e ainda de forma natural.

“Cada vez mais as pessoas se conscientizam em relação à questão ecológica e o uso desses insumos naturais, além de não afetar o meio ambiente, resulta em um melhor controle das pragas e ainda melhora a cadeia produtiva da cana-de-açúcar que terá um ambiente mais livre de defensivos”, destaca o dirigente, lembrando que essa é a tendência de todos que trabalham com o agronegócio. “Ao invés de investir em defensivos, as pessoas estão procurando diluir seus gastos com a adoção de biotecnologias referentes a sementes ou plantas mais fortes para se fazer um uso mais racional dos próprios defensivos ou mesmo nem chegar a usá-los”, disse.

Conforme a pesquisa da consultoria Kleffmann Group, a melhora do Brasil nas estatísticas relacionadas ao uso de defensivos está também atrelada a uma produção cada vez maior, com pequeno aumento de área cultivada – ganho de produtividade – e ajuda do clima, que permite o plantio de duas ou até três safras por ano em um mesmo espaço. “Aqui na Paraíba já estamos tentando crescer verticalmente em produtividade porque não temos espaço para expandir nossa produção. Daí nossos investimentos para a compra de novas variedades de cana mais resistentes e o uso de defensivos biológicos”, concluiu o dirigente da Asplan, Murilo Paraíso.

Vale lembrar que em números absolutos, no entanto, o Brasil – com uma Agricultura tropical e uma maior incidência de pragas e doenças – é o país que mais gasta em defensivos, cerca de USS 7 bilhões em 2011, superando os Estados Unidos, que desembolsaram USS 6,7 bilhões nesse mesmo ano.

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Mudanças em seis ministérios não deve provocar solução de descontinuidade nas ações do Governo Federal

murilo mapaO Brasil já tem seis novos ministros. As mudanças ocorrem nos ministérios do Desenvolvimento Agrário, das Cidades, da Pesca e Aquicultura, da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Turismo. Os novos ministros tomaram posse nesta segunda-feira (17). Esta é a segunda etapa da reforma ministerial, iniciada pela presidenta há pouco mais de um mês.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário, atualmente ocupado por Pepe Vargas, será assumido pelo ex-presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto, que já ocupou a pasta no governo Lula. Em Cidades, o vice-presidente da Caixa, Gilberto Occhi, substituirá Aguinaldo Ribeiro.

Clelio Campolina Diniz, reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), será o novo titular da Ciência e Tecnologia no lugar de Marco Antonio Raupp. Já o senador Eduardo Lopes (PRB-RJ) ocupará o ministério da Pesca e Agricultura, atualmente conduzido pelo também senador Marcelo Crivella, também do PRB fluminense.

Neri Geller, hoje secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, será o substituto de Antônio Andrade na pasta. Para o lugar de Gastão Vieira no Ministério do Turismo, a presidente anunciou o gerente de assessoria internacional do Serviço Brasileiro às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Vinicius Nobre Lages.

O presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), Murilo Paraíso, avalia que a mudança não deve atrapalhar os projetos que já estão em andamento. “Como é uma mudança eminentemente política, porque os ex-auxiliares estão deixando os cargos por causa do prazo de descompatibilização da Lei Eleitoral, porque pretendem disputar as eleições, acredito que as ações não sofram soluções de descontinuidade, especialmente, as ligadas à Agricultura que mais nos interessam”, diz Murilo, desejando boa sorte aos novos ministros.


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