Produtores de cana acreditam que alteração da mistura de álcool à gasolina não resolve os problemas do abastecimento energético no país
Para o presidente da Asplan-PB, Murilo Paraíso, melhor que o vai e vem da mistura seria o Brasil regulamentar o setor com metas de produção para o abastecimento interno de álcool
“Mais uma vez o governo está fugindo da discussão de políticas públicas que regulamente o setor energético no Brasil”. Foi com essa afirmação que o presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), Murilo Paraíso, recebeu a notícia de que o governo federal vai elevar a mistura do álcool anidro à gasolina de 20% para 25%, a partir de 1º maio. Para o dirigente, apesar de o governo entender que dará para aumentar o percentual do álcool misturado à gasolina sem prejuízo dos níveis regulares de etanol no mercado, a medida é mais um paliativo para se esquivar da discussão de políticas públicas que regulamente o setor energético nacional. No final, é o consumidor é quem paga alto tanto pela gasolina como pelo álcool que também pode sofrer reajuste nas bombas.
De acordo com Murilo, ao invés de elevar ou reduzir o percentual de álcool misturado à gasolina, o governo deveria ter um controle maior sobre o fornecimento energético, estabelecendo metas de produção do álcool para o abastecimento interno, garantindo, portanto, os preços finais ao consumidor. “Do contrário, enquanto o governo não chama para si a responsabilidade de determinar metas de produção, são os consumidores que continuarão sendo surpreendidos por oscilações de preços dos combustíveis e o país sempre vai conviver com a possibilidade de desabastecimento, com aumento demasiado dos preços do álcool e esse vai e vem eterno do aumento e diminuição da mistura à gasolina, numa tentativa de baixar o preço desta”, defendeu o dirigente.
O equilíbrio do preço do álcool, para Murilo, está na garantia de oferta assegurada. A regulamentação do setor sucroalcooleiro, segundo ele, é indispensável para o fortalecimento da matriz energética nacional. “Com a implantação de um marco regulatório determinado pelo governo federal, o Brasil teria cotas mínimas para a fabricação de álcool e açúcar e assim também teria estoques reguladores como medida de segurança contra uma eventual escassez da oferta do etanol no mercado interno”, defendeu o dirigente da Asplan, lembrando que a medida beneficiaria também o produtor de cana, que poderia antecipar a venda da matéria-prima ao término da safra, através do sistema de warrantagem.
O vai e volta da mistura
O percentual atual de 20% de álcool misturado à gasolina está em vigor desde fevereiro de 2010, quando o governo federal decidiu reduzir a mistura de 25% para 20% visando a economia de 100 milhões de litros de etanol por mês. A medida serviu para forçar a baixa do preço do álcool comercializado nos postos de combustíveis e manter a oferta do produto no mercado. Agora, o governo pretende retomar a mistura de 25% de álcool à gasolina para reduzir o impacto no preço final do combustível ao consumidor. Segundo o que vem sendo divulgado na imprensa nacional, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que os produtores de etanol garantem que vão dar conta de ofertar o excedente de álcool.